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Aquela coisa louca, o amor*

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Crazy little thing called love - Queen
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* As informações sobre a canção e a imagem estão logo abaixo do texto. 

O que dizer daquele rosto? Inacreditável? Indescritível? Inalcançável? Impossível desenhá-lo com perfeição? Sim! Ela, com certeza, seria incapaz de fazê-lo, mas pensava que mesmo um grande artista não conseguiria. O que era mesmo? Seriam os olhos? Os cabelos impecavelmente rebeldes? O sorriso imenso e reluzente? Ah, sabe-se lá, era tudo isso e um pouco mais. Desde o dia em que se encontraram naquele ônibus de volta para casa, contava os minutos para pegar a condução e ter a sorte de revê-lo. Duas semanas e nada.

Odiava-se no momento por não ter conseguido falar um “oi” sequer. Também, como reagir àquela aparição? Não era possível alguém ter conseguido juntar todos os detalhes que a agradavam. A cor dos olhos, a altura, o tipo físico, o sorriso largo, o... a... os... Ah, perdeu o fôlego quando o viu. E perdeu a força nas pernas e quase caiu no meio do corredor. Fazer o quê? Quem nunca passou vergonha ao encontrar o verdadeiro amor? Sim, porque na cabeça dela, de comédias românticas e livros melosos, era óbvio que ele era o cara, o predestinado, como naquele filme “Serendipity”. Reencontrariam-se. Claro!

E o tal conceito de serendipidade devia ter lá o seu poder, porque aconteceu de se esbarrarem enfim. Não no ônibus, porque seria muito comum, mas numa livraria (também clichê em filmes românticos, mas nem tanto). Três semanas depois do primeiro olhar. Dela para ele, porque ele nem a vira, embora ela até tenha se alongado e crescido uns três centímetros para ver se era notada.

Na livraria, ela o viu e, num ato de bravura, traçou uma reta até a estante na qual ele escolhia o livro. O coração na boca, as mãos geladas, os pés querendo tropeçar, mas foi. E viu que ele buscava livros de poesia. E morreu um pouco mais... Esticou os olhos... “Nossa, você gosta de Bukowski?”, pensou em dizer, “Eu também!”. Muito invasivo, melhor não. Na verdade, nem conhecia o poeta. Já que estava ali, escolheu um Leminski e foi para o caixa. Ele também.

Atrás dela, puxou conversa. “Adoro Leminski! Mas hoje vou de Bukowski. Já leu?”. Quis desmaiar. “Não... É bom?”. E o moço do caixa concordou que era ótimo. E os três debateram sobre poesia. Na verdade, ela mais ouviu do que falou, cara de besta para a aparição que ainda entendia de literatura. Ela só conhecia um ou outro poema, mas se fez de cult. A conversa rendeu e acabou tomando um café com o destino. Trocaram telefones...

Saiu da livraria caminhando nas nuvens. O Destino a atropelou no caminho, na porta do cinema no qual ela nem ia. Ele acompanhado de uma... Namorada? Porcaria de serendipidade que apresenta as pessoas nas horas erradas... Ele nem a viu. Nem mandou mensagem depois... Um dia, talvez? Ah, sabe-se lá...

* Neste conto, a imagem pode ser encontrada em: https://loveoclock.wordpress.com/2014/02/06/apologue-48-the-red-string-of-fate/  Vale pesquisar sobre a lenda do fio vermelho do destino. Deem uma olhada aqui para ter uma ideia: http://www.cacadoresdelendas.com.br/japao/akai-ito-o-fio-vermelho-destino/ Quanto à canção escolhida, é uma das minhas faixas favoritas da banda inglesa Queen. "Crazy little thing called love" foi lançada no álbum "The Game" de 1979. Escrita por Freddie Mercury, reza a lenda que foi composta em 10 minutos e é uma homenagem a Elvis Presley. 

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