A mãe nunca soube inglês, mas achava bonitas demais aquelas canções melosas que tocavam no rádio. Gostava tanto que a filha cresceu curiosa para entendê-las, traduzi-las. A filha aprendeu aquela língua estrangeira para contar à mãe o que ela ouvia.

 

Tinha viva a lembrança de quando era pequena e voltavam correndo da escola  para ouvir no rádio, no Top ten, a música que estava na primeira posição no dia ou na semana. No início dos anos 80, gostavam de ouvir juntas “I won’t let you down” da banda PhD.

 

Não sabiam o significado nem do nome da banda nem do título da canção, mas os acordes eram tão cativantes. “I won’t let you down...” Anos mais tarde, a menina descobriu que significava “não vou te decepcionar”. A canção era sobre um homem fazendo promessas à namorada.

 

Mais tarde, a menina encontrou versos bem mais elaborados, conheceu Chico Buarque e William Blake. Mais tarde, entendeu o que era o nome da banda e também quis ser PhD. “I won’t let you down...”. O tempo moveu os acordes e, mesmo com o passar dos anos, eles ainda reverberavam por dentro. O significado tão ampliado...

 

“I won’t let you down…” A música no rádio digital do carro enquanto a menina, agora mãe, levava a filha para a universidade. “I won’t let you down...”. Os acordes, o vento, a memória partilhada... Esperanças e expectativas talvez frustradas... Quem disse que é possível cumprirmos todas as nossas promessas, alcançar a perfeição? “I don’t wanna let you down...” Hoje uma prece, um pedido, um compromisso... Não mais o desesperado medo do erro, mas a certeza de nossa humanidade de avó, mãe, filha...