Quando pequeno, o maior sonho era fabricar nuvens. Não sabia ainda como elas se formavam, mas queria inventar uma máquina que moraria dentro de uma caixa de aquário invertida. Ali ele guardaria seus peixes brancos e acinzentados num lago de ar.

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O projeto veio depois da época na qual ele acreditava que as nuvens eram de algodão. Em um dia de pouca vigilância dos pais, ele inclusive arrumou jeito de colar algumas bolas brancas no teto do próprio quarto. “Mamãe, olha! Eu fiz um céu!”. A mãe, pálida de susto com a escada improvisada na estante, não gostou da instalação artística. Dali em diante, ele começou a pensar em outras maneiras de conquistá-las.

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 Na quinta série primária, finalmente começou a entendê-las de fato. Naquele ano, a professora de Ciências deu uma aula ao ar livre. Esparramados na grama, os alunos contemplavam as nuvens, enquanto ela desfiava cirros, cúmulos, nimbos... A descoberta dos nomes das formas do seu fascínio! Não queria mais voltar para a sala de aula quadrada e fria.

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No mesmo ano, visitou a serra com os pais. Porque ainda não tinha viajado de avião, descobriu ali a sensação de entrar numa nuvem. O véu branco flutuando sob o chão em forma de neblina... A loucura de entender a consistência etérea de algo que, de longe, parecia tão denso. A constatação de que era impossível capturá-las como pensara.

 

Muitas nuvens depois e já adulto, tornou-se fotógrafo. A tentativa de emoldurar a beleza... O céu ainda o motivo favorito, mas também as gentes, as construções, os conflitos... A complexidade do que há de imenso e no detalhe diminuto. A tentativa de congelar o tempo... E enxergar com os mesmos olhos daquele menino de cabeça nas nuvens...