

Poeira ao vento *

* As informações sobre a canção e a imagem estão logo abaixo do texto.
O pássaro chocou-se contra o para-brisa do carro. O rosto virado do bicho no impacto, a queda subsequente, a face da morte. Um terrível sentimento de culpa: será que o atropelei?
Não, ele brigava com outro pássaro quando perdeu o controle do voo e bateu no carro. Uma disputa por espaço, proteção dos filhotes, medo de traição, uma discussão banal? Que importava agora? A quebra do pescoço só demonstrava que o fim é inevitável.
Seria macho ou fêmea? Teria filhotes? Era velho ou novo? Será que pássaros também fazem planos? A trajetória interrompida em um segundo.
Os olhos ficaram marejados. A morte dói. A eternidade ou o nada posterior assustam de forma igual. Não é apenas o medo do que vem, é a angústia por quem fica, é o temor de não ter significado. Talvez pudéssemos ter voado tão mais alto...
“Dust in the wind
All we are is dust in the wind
Same old song
Just a drop of water in an endless sea
All we do
Crumbles to the ground though we refuse to see”
* No conto Poeira ao vento, a imagem foi copiada deste link: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Hand_shadow_bird.jpg. A ideia da sombra de um pássaro feita com as mãos é exatamente refletir sobre o quanto somos "sombras", viajantes neste mundo... Também para pensar que a vida está em nossas mãos para tentarmos fazer dela o melhor. Nesta efemeridade, tentar ser. "Dust in the wind" é daquelas canções que traduzem nossa brevidade no mundo. Do grupo Kansas, a música foi lançada no álbum Point of Know Return em 1077. Desde então, é sucesso no mundo todo, tendo sido regravada por vários artistas. Ainda fico com a versão clássica, porque é a interpretação que mais me toca.