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Sonho sob o Sol *

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Me ensina a escrever - Oswaldo Montenegro
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* As informações sobre a canção e a imagem estão logo abaixo do texto. 

Quantas histórias habitavam aquelas gavetas? Será que aranhas, formigas, baratas ou traças já haviam devorado aquelas linhas? Pastas, pequenos cadernos, folhas avulsas, post-its de planos futuros. Mapas mentais de percursos imaginários. O futuro e o passado guardados no mesmo espaço.

Será que as personagens ali dentro conversavam? Provavelmente já teceram melhores histórias do que as dela. O sonho, o sonho... as páginas no abraço de uma capa e o cheiro incomparável de livro novo. Os olhos debruçados sobre os parágrafos, buscando os detalhes em cada canto. A cumplicidade no entendimento de todos os planos.

Cada folha saindo um pouco para respirar, o sol tocando amarelados encantos. O reencontro com velhos conhecidos e esquecidas fábulas. Será que ainda estão em uso aquelas palavras? À porta, a filha de olhos claros e cacheados pensamentos: “São desenhos, mamãe?”. “Histórias, filha, livrinhos...”.

Aproximou-se e sentou-se no colo da mãe que, pernas cruzadas, tentava colocar ordem nas coisas. “Olha, que bonita! Quem é?”. Uma personagem, uma tentativa de desenho, um esboço de livro infantil. “Conta...”. Narrou os descaminhos da raposa. Os olhos e os ouvidos atentos, a leitora ideal. “Conta de novo?”.

O presente aberto para um possível futuro. “Será?”. Um ruído na porta, o fantasma. O retorno aos quartos escuros, às paredes sem janelas, aos pequenos muros? Quando foi que deixou condenar à prisão os seus sonhos? O sol tocou o rosto da filha, a imagem da raposa. O sol não se intimida na escuridão.  

 

“Me ensina a fazer
Uma canção falando quanto custa
Trancar aqui dentro as palavras
Calando e querendo dizer
Não sei se o poema é bonito
Mas sei que preciso escrever”

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